"Alex
Ehren interrogou-se sobre como conseguiam as crianças resolver as adivinhas,
porque muitas delas nunca tinham frequentado a escola e o seu conhecimento era
superficial e cheio de lacunas. Porém, elas gostavam de coisas novas e
interessavam-se por histórias que substituíam as experiências que elas tinham
vivido. Era o bloco, pensava ele, que substituía o mundo delas duplamente
afastado. Estavam confinadas ao campo, mas dentro do bloco das crianças cresciam
como plantas dentro de uma estufa, alimentadas pelas palavras das histórias e
pelos prados e pássaros que Lisa Pomnenka pintara na parede."
in
Kraus, O.(2019). O Bloco das Crianças. Lisboa: Editorial Presença.
Estou, neste momento, a
ler (quase a terminar) “O Bloco das Crianças”, um romance baseado na história
verídica de um sobrevivente do Campo de Concentração de Auschwitz-Birkenau –
Otto B. Kraus.
No livro, Alex Ehren é
um professor e um poeta que tenta, no mundo infernal que é o do campo de
concentração, criar uma ilusão de alguma normalidade junto das crianças.
Ignorando as ordens dos Chefes do Campo, Alex, juntamente com a ajuda de outros
prisioneiros, tenta ensinar às crianças um pouco de Geografia, um pouco de
História e, também, transmitir-lhes um pouco daquilo que os Nazis tentaram
eliminar – o sentido de pertença a um povo, a uma religião, a uma raça.
No bloco das crianças, consegue-se
o impossível recorrendo a meia dúzia de livros escondidos, a restos de folhas
de papel deitadas para o lixo pelos SS, a pedaços de madeira que, depois de
queimados, servem de lápis, ou que, depois de magicamente esculpidos por
Shashek com um resto de lâmina, se transformam em marionetes…
No bloco das crianças,
diariamente, acontece magia.
Sem nunca terem visto
uma ave a voar no campo, pois todos os pássaros morriam eletrocutados nas vedações
eletrificadas, uma das prisioneiras consegue que as crianças dancem simulando o
voo das aves…
Apesar da inexistência
de árvores no Campo de Concentração, Lisa Pomnenka, uma das prisioneiras que
trabalha para o Dr. Menguele, pinta uma parede junto ao bloco das crianças, com
um campo verdejante onde não faltam árvores, flores, e belas aves que
contrastam com a ausência de vida desse mundo onde pavilhões de madeira escura
se sucedem em verdadeira monotonia.
Num local onde a iminência
da morte é uma constante, onde se luta por uma fatia de pão, e onde uma colher
de sopa a mais pode fazer a diferença entre a vida e a morte, há um conjunto de
prisioneiros que luta para que a vida das crianças no Campo seja de uma
ilusória normalidade.
Agora leio eu, a seguir
por que não lês tu.
Podes, aliás, começar a
ler as primeiras páginas deste livro seguindo o link:
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