domingo, 5 de dezembro de 2021

“Leituras Centenárias” na Escola Básica e Secundária de Gama Barros

 

A 16 de novembro de 1922 nascia na Azinhaga, no Ribatejo, aquele que viria a ser, até ao momento presente, o único escritor português galardoado com o Prémio Nobel da Literatura.

99 anos depois, a Fundação José Saramago assinala a data com um conjunto de iniciativas que se vão desenrolar até 16 de novembro de 2022 altura em que, efetivamente, se completam os 100 anos do nascimento deste escritor.

O pontapé de saída para uma vasta programação cultural que vai acontecer durante um ano, aconteceu no dia 16 do passado mês de novembro e realizou-se no âmbito de uma parceria com a Rede de Bibliotecas Escolares e o Plano Nacional de Leitura. O desafio lançado às escolas previa a leitura de textos de Saramago na comunidade escolar, em particular do conto “A Maior Flor do Mundo”. Entendemos associar-nos a esse acontecimento mas partindo da leitura de excertos de “As Pequenas Memórias”, obra que está, aliás, a ser lida por um dos Clubes de Leitura da escola – o 12.º LH1.

Assim, Biblioteca Escolar e Professores de Português associaram-se e planearam um grande evento em que se parou para ler na escola. Muitos foram os professores que abriram generosamente as portas das suas aulas para receberem dezenas de alunos do 12.º ano que, nos dias 15 e 16 de novembro, leram em voz alta pequenos textos para os seus colegas de 9.º, 10.º e 11.º anos. Houve, também, alunos do 12.º ano a lerem poemas da autoria de José Saramago para os mais jovens, nomeadamente para algumas turmas do 5.º ano.

Não faltou um apontamento na sala de professores. Três alunas do 12.º LH1 leram o texto de “As Pequenas Memórias” onde Saramago recorda o seu namoro passageiro com uma rapariga de nome Deolinda.  

Para assinalar este dia, a Biblioteca Escolar dinamizou, ainda, um “Leituras de Porta em Porta” que, mais uma vez, contou com a colaboração de alguns alunos monitores.

Aqui ficam algumas fotografias que registaram esses momentos de partilha de leituras em homenagem a José Saramago e o excerto do texto de "As Pequenas Memórias" lido na sala de professores.








“Daquela mesma varanda, tempos mais tarde, namorei uma rapariga de nome Deolinda, mais velha do que eu três ou quatro anos, que morava num prédio de uma rua paralela, a Travessa do Calado, cujas traseiras davam para as da minha casa. Há que esclarecer que namoro, o que então se chamava namoro, dos de requerimento formal e promessas mais ou menos para durar (“A menina quer namorar comigo?”,”Pois sim, se são boas as suas intenções”), nunca o chegou a ser. Olhávamo-nos muito, fazíamos sinais, conversávamos de varanda para varanda por cima dos pátios intermédios e das cordas da roupa, mas nada de mais avançado em matéria de compromissos. Tímido, acanhado, como me estava no carácter, fui algumas vezes a casa dela (vivia, creio recordar, com uns avós), mas ao mesmo tempo, decidido a tudo ou ao que calhasse. Um tudo que daria em nada. Ela era muito bonita, de rostinho redondo, mas, para meu desprazer, tinha os dentes estragados, e, além do mais, deveria pensar que eu era demasiado jovem para empenhar comigo os seus sentimentos. Divertia-se um pouco à falta de pretendente idóneo, mas, ou muito enganado ando desde então, tinha pena de que a diferença de idades se notasse tanto. Em certa altura desisti da empresa. Ela tinha o apelido de Bacalhau, e eu, pelos vistos já sensível aos sons e aos sentidos das palavras, não queria que mulher minha fosse pela vida carregando com o nome de Deolinda Bacalhau Saramago.”

 Saramago, J. (2006). As Pequenas Memórias. Lisboa: Editorial Caminho.

 











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