As atuais comemorações têm as
suas raízes em manifestações antigas, nomeadamente no culto das árvores e das
florestas de culturas antigas e que ainda perduram.
Os gregos e os romanos tinham o
culto de várias divindades que associavam às árvores. Os celtas acreditavam na
magia das árvores e que cada uma tinha o seu próprio poder. A simbologia
estendeu-se também às florestas, espaço de mistério e de sentimentos
conflituais que excitam a imaginação e o fantástico. As comemorações referenciadas
na antiga Grécia e em Roma assumem a sua expressão mais celebrizada em França
como símbolo do novo regime que sucedeu à Revolução Francesa “as árvores da
liberdade”.
As actuais comemorações e
as“Festas da Árvore”, do início do século, têm a sua raiz no Dia da Árvore, dia
especialmente dedicado à plantação de árvores no Nebrasca (EUA), face à
escassez de florestas, com início em 10 de abril de 1872.
Muitos países se seguiram nesta
iniciativa. As comemorações tinham lugar em diferentes épocas, dependendo das
condições climáticas.
Em Portugal, a primeira “Festa da
Árvore” foi comemorada em 1907, estendendo-se estas comemorações, sobretudo
durante o período inicial da 1.ª República, até 1917. Foram interrompidas pelo
Estado Novo. Para alguns a “Festa da Árvore” não passava de um culto pagão,
sendo destruídas as árvores plantadas.
Em dezembro de 1970, no âmbito
das comemorações do Ano Europeu da Conservação da Natureza, foi retomada a
celebração oficial do “Dia da Árvore”, por proposta da então Direção-Geral dos
Serviços Florestais e Aquícolas e da Liga para a Proteção da Natureza.
A “Festa da Árvore” passou
a“Festa da Floresta” quando, em 1971, a FAO estabeleceu o "Dia Mundial da
Floresta" com o objetivo de sensibilizar as populações para a importância
da floresta na manutenção da vida na Terra.
Em Portugal foi celebrado o
primeiro “Dia Mundial da Floresta” em 1974, tendo sido escolhida, como em
muitos outros países do hemisfério norte, a data de 21 de março, o primeiro dia
de primavera.
Em 30 de novembro de 2012, a
Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou uma resolução que declara o dia 21
de março de cada ano como Dia Internacional das Florestas, encarregando o
Secretariado de, em colaboração com os governos e as demais organizações
internacionais e da ONU, organizar anualmente as comemorações do Dia
Internacional.
DIA DA FLORESTA AUTÓCTONE
A 23 de novembro celebra-se, na
Península Ibérica, o Dia da Floresta Autóctone. Esta efeméride surge em
complemento do Dia Mundial da Floresta - 21 de março - pouco adequado à
plantação de espécies autóctones nos países do sul da Europa.
Assim, sugere-se a plantação de
árvores no dia da Floresta Autóctone e a rega (se necessário) no Dia Mundial da
Floresta.
A EVOLUÇÃO DA FLORESTA
A floresta na Península Ibérica,
durante as mudanças climáticas pleistocénicas, com avanços e recuos dos gelos
continentais, era diferente das florestas atuais.
Antes da última glaciação
tínhamos no nosso território um clima subtropical húmido, estando coberto por
florestas de lenhosas sempre-verdes com composição semelhante à que se observa
hoje, nos Açores, Canárias e Madeira. Aqui este tipo de floresta não foi
devastado pela última glaciação devido às temperaturas não atingirem os baixos
valores do continente.
Esta floresta designa-se
Laurissilva por ter árvores da família das Lauráceas, como o loureiro Laurus
nobilis, o til Ocotea foetens ou o vinhático Persea indica.
Na serra de Sintra ainda
persistem algumas espécies relíquia da Laurissilva como o feto-dos-carvalhos Davallia
canariensisou o feto-folha-de-hera Asplenium hemionitis.
Durante a última glaciação o
nosso país teve um clima muito frio, desaparecendo a Laurissilva e passando a
ter uma cobertura vegetal semelhante à actual taíga. Abundavam pinheiros e Juniperus
como a sabina-das-praias.
Depois da última glaciação a
floresta apresenta espécies adaptadas ao novo clima, predominando carvalhos,
género Quercus,e a faia Fagus sylvatica.
A nossa espécie instala-se na
Europa em plena última glaciação e assiste/colabora na formação da floresta
atual. De início, a humanidade aproveita a proteção e riqueza disponibilizada
pela floresta: caça, frutos, água. Quando inicia o cultivo de cereais e a
domesticação dos animais inicia-se a degradação da floresta. Intensifica-se com
a procura de lenha e de carvão, exploração de madeira e alargamento do espaço
pastoril e agrícola.
A construção de naus, durante os
descobrimentos, teve grande responsabilidade na exploração e declínio das
florestas europeias. A maior parte da floresta de serra de Sintra foi então
destruída.
Com as montanhas desarborizadas,
a população começou a viver do pastoreio. Os fogos e queimadas também
contribuíram para a desertificação das nossas montanhas. Passam a estar
cobertas por urzes, giestas, tojos, torgas e carqueja.
Portugal foi artificialmente
rearborizado a partir do século XIX. Na serra de Sintra foram utilizados o
pinheiro-bravo Pinuspinaster, o cedro do Buçaco Cupressus lusitanica e o
eucalipto Eucaliptus globulus.
A não substituição por matas
fundadas na vegetação natural – equilibrada e estável - teve como consequência
a pesada fatura dos fogos. Após o grande incêndio de 1966, criaram-se condições
para se instalarem as espécies invasoras como as acácias, o pitósporo e as
háquias.
Actualmente, no topo, predominam
os pinhais bravos, eucaliptais e acaciais, que o fogo periodicamente devora. O
avanço das espécies invasoras é cada vez maior.
A fauna da serra, onde já viveram
ursos, cervos, javalis, lobos, gatos-bravos, lebres, não pode hoje ser rica
dado o predomínio de espécies exóticas.
A FLORESTA ATUAL NA SERRA DE SINTRA
Estima-se que, atualmente, apenas
persista 1% da vegetação arbórea natural. No entanto, o clima especial, a
diversidade de exposições e de composição geológica permitem uma notável
biodiversidade: cerca de 900 plantas autóctones, sendo, cerca de metade,
mediterrânicas ou oeste-mediterrânicas. Nos espaços mais abrigados ocorre a
regeneração do carvalhal.
Floresta de carvalho cerquinho
Ainda se encontram quase todas as
espécies do género Quercusespontâneas em Portugal: o sobreiro Quercus suber vê-se
com frequência a meia altitude nas encostas setentrionais mais frescas, o
carvalho-alvarinho ou roble Quercus robur, que subsiste na humidade das
vertentes mais a norte de clima mais suave, o carvalho-negral Quercus pyrenaica
prefere a parte superior da montanha mais fria e com solos mais ácidos e secos,
e o carrasco Quercus coccifera por toda a serra, este preferindo as encostas
mais secas, onde se intercala com a azinheira Quercus rotundifolia, o Quercus
lusitanica a carvalhiça, carvalho arbustivo característico de zonas outrora
ocupadas por floresta, o carvalho-cerquinho Quercus faginea nos terrenos
calcários, e nas vertentes setentrional e meridional a média altitude Quercus
rotundifolia, a azinheira. Coabitam com o azevinho Ilex aquifolium,o
medronheiro Arbutus unedo, o folhado Viburnum tinus, o zambujeiro Olea europaea
var. sylvestris a gilbardeiraRuscus aculeatus e violetas Viola odorata nas
margens dos caminhos.
Carvalho negral
Zambujeiro
Próximo das linhas de água
crescem os freixos Fraxinus angustifolia, amieirosAlnus glutinosa, aveleiras Corylus
avellana, salgueiro-preto Salix atrocinerea e o ulmeiro Ulmus minor.
Musgos, líquenes, fetos e grande
variedade de cogumelos encontram aqui habitat privilegiado. Cerca de 140
espécies de cogumelos foram já identificadas na serra.
Prof. Honório Marques
Bibliografia: www.icnf.pt
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