terça-feira, 30 de junho de 2020

Centenário do Nascimento de Amália Rodrigues

Fotografia de "Library of Congress"

Centenário do nascimento de Amália Rodrigues
(Lisboa,1 de julho de 1920 – Lisboa, 6 de outubro de 1999)

“De chinela no pé e uma enorme timidez, lá subiu Amália ao palco, em representação de Alcântara, bairro onde vivia com os avós, para cantar o fado que lhe abriria as portas do destino para o qual estava guardada: o de cantadeira. Alguns anos mais tarde, Amália Rodrigues seria a fadista mais bem paga de sempre e, também, a grande embaixadora de Portugal no mundo inteiro.
Teve uma infância muito difícil, quase sem amor ou carinho, e, talvez por isso, interpretava o fado como ninguém. Aquela música, com a sua tristeza inerente, dramática e lânguida, fora-lhe colocada no peito no preciso momento em que veio ao mundo e chorou pela primeira vez. Amália era a personificação do fado.”
Com apenas 15 anos foi vender fruta para a zona do Cais da Rocha e imediatamente chamou a atenção de quem por ali passava devido ao timbre especial da sua voz.
“Sempre se sentiu uma espécie de “Maria vai com as outras”: quando era uma menina, as vizinhas chamavam-na à janela a pedir-lhe que lhes cantasse uma canção, e ela cantava-lhes tangos de Gardel. Quando a chamaram para cantar pela primeira vez no estrangeiro, em Nova Iorque, ela foi. Queriam-na por duas semanas, mas fez um sucesso tal que acabou por ficar quatro meses. Sempre que a chamavam para cantar, ela ia, fosse para onde fosse, e assim se fez o seu caminho para o sucesso. Foi também assim que foi parar ao cinema e à revista: chamaram-na, e ela foi. Gostava mais de fazer cinema, já que o texto a ajudava a esconder a sua timidez extrema e que a acompanharia até ao fim da vida. Quando fazia revista, já não era bem assim, e, como nunca sabia o que dizer, cantava.
Pela primeira vez, o fado viajou até aos quatro cantos do mundo e o público, ainda que não falasse português, compreendia o sentimento contido naquela voz inigualável. Do Japão ao Brasil, não havia quem não se rendesse à sua comovente e lânguida maneira de cantar.
Cantou coisas inimagináveis que nunca antes um fadista se atrevera a cantar, como poemas de Luís de Camões, de Alexandre O’Neill ou de José Régio. E, ainda que poucos o saibam, a maioria dos versos que cantava eram seus.”
Cantou outros grandes poetas do seu tempo como David Mourão Ferreira, José Carlos Ary dos Santos e Manuel Alegre.
“É ainda a Amália que devemos a iconografia da fadista de vestido preto e xaile ao peito, de olhos fechados e rosto erguido – antes dela, as fadistas não se vestiam assim. Do rosário de penas que Deus lhe pôs no peito, Amália bordaria um xaile negro que a acompanhava quando se apresentava em público.
Tudo em Amália é imenso e intemporal, seja o legado que deixou – de ter aproximado o fado e a poesia portuguesa das gentes de todo o mundo -, seja o arrepio intenso que nos invade o corpo quando a ouvimos cantar.
Silêncio, que se vai cantar o fado.”

In Vicente, L. (2018). Portuguesas Com M Grande. Lisboa: Nuvem de Tinta


Oiça dois dos grandes fados de Amália - “Gaivota” - poema de Alexandre O’Neill e composição de Alain Oulman e “Povo que lavas no rio” de Pedro Homem de Mello. 

Para isso, clique nos seguintes links:


https://www.youtube.com/watch?v=HJ-ugf0_YPg

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