Fotografia de "Library of Congress"
Centenário
do nascimento de Amália Rodrigues
(Lisboa,1
de julho de 1920 – Lisboa, 6 de outubro de 1999)
“De chinela no pé e uma
enorme timidez, lá subiu Amália ao palco, em representação de Alcântara, bairro
onde vivia com os avós, para cantar o fado que lhe abriria as portas do destino
para o qual estava guardada: o de cantadeira. Alguns anos mais tarde, Amália
Rodrigues seria a fadista mais bem paga de sempre e, também, a grande
embaixadora de Portugal no mundo inteiro.
Teve uma infância muito
difícil, quase sem amor ou carinho, e, talvez por isso, interpretava o fado
como ninguém. Aquela música, com a sua tristeza inerente, dramática e lânguida,
fora-lhe colocada no peito no preciso momento em que veio ao mundo e chorou
pela primeira vez. Amália era a personificação do fado.”
Com apenas 15 anos foi
vender fruta para a zona do Cais da Rocha e imediatamente chamou a atenção de
quem por ali passava devido ao timbre especial da sua voz.
“Sempre se sentiu uma
espécie de “Maria vai com as outras”: quando era uma menina, as vizinhas
chamavam-na à janela a pedir-lhe que lhes cantasse uma canção, e ela cantava-lhes
tangos de Gardel. Quando a chamaram para cantar pela primeira vez no estrangeiro,
em Nova Iorque, ela foi. Queriam-na por duas semanas, mas fez um sucesso tal
que acabou por ficar quatro meses. Sempre que a chamavam para cantar, ela ia,
fosse para onde fosse, e assim se fez o seu caminho para o sucesso. Foi também
assim que foi parar ao cinema e à revista: chamaram-na, e ela foi. Gostava mais
de fazer cinema, já que o texto a ajudava a esconder a sua timidez extrema e
que a acompanharia até ao fim da vida. Quando fazia revista, já não era bem
assim, e, como nunca sabia o que dizer, cantava.
Pela primeira vez, o
fado viajou até aos quatro cantos do mundo e o público, ainda que não falasse
português, compreendia o sentimento contido naquela voz inigualável. Do Japão
ao Brasil, não havia quem não se rendesse à sua comovente e lânguida maneira de
cantar.
Cantou coisas
inimagináveis que nunca antes um fadista se atrevera a cantar, como poemas de
Luís de Camões, de Alexandre O’Neill ou de José Régio. E, ainda que poucos o
saibam, a maioria dos versos que cantava eram seus.”
Cantou outros grandes
poetas do seu tempo como David Mourão Ferreira, José Carlos Ary dos Santos e
Manuel Alegre.
“É ainda a Amália que
devemos a iconografia da fadista de vestido preto e xaile ao peito, de olhos
fechados e rosto erguido – antes dela, as fadistas não se vestiam assim. Do
rosário de penas que Deus lhe pôs no peito, Amália bordaria um xaile negro que
a acompanhava quando se apresentava em público.
Tudo em Amália é imenso
e intemporal, seja o legado que deixou – de ter aproximado o fado e a poesia
portuguesa das gentes de todo o mundo -, seja o arrepio intenso que nos invade
o corpo quando a ouvimos cantar.
Silêncio, que se vai
cantar o fado.”
In Vicente,
L. (2018). Portuguesas Com M Grande.
Lisboa: Nuvem de Tinta
Oiça dois dos grandes
fados de Amália - “Gaivota” - poema de Alexandre O’Neill e composição de Alain
Oulman e “Povo que lavas no rio” de Pedro Homem de Mello.
Para isso, clique nos seguintes links:
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