Poema
silenciosamente aproximo-me do poema
circundo-o duma palavra faço nela
uma incisão deliberada
e exponho a ferida ao ar sem protegê-la
para que infecte e frutifique
de resina ainda com gosto a papel húmido
o poema cresce ramifica-se
comovidamente do cerne para a casca
inteiro liso adstringente sinuoso
mas
todo o poema é perfeitamente impuro
Vasco Graça Moura
(Um dos poemas escolhidos pelos alunos)
No dia 21 de março foi
Dia Mundial da Poesia. A Biblioteca Escolar assinalou a data, aqui no nosso
blogue, com uma série de publicações alusivas a esta efeméride.
Haverá, no entanto,
melhor forma de se “homenagear” a poesia do que ler ou dizer poesia? E foi para
ouvir ler, e para se falar de poesia, que fui convidada pela professora de
Português, Filomena Pereira, a participar em algumas das suas aulas.
Esta docente lançou aos
seus alunos o desafio de, nas últimas aulas deste período, partilharem com o
grupo turma um poema. Assim, esqueceram-se as aulas mais formais de análise
estilística, e centrámo-nos na mera fruição do texto poético. Ler, pensar,
refletir, sentir e partilhar foram verbos presentes nestas aulas em que cada
aluno leu um poema escolhido por si, de entre um corpus alargado de textos de
poetas como Vasco Graça Moura, José Luís Peixoto, Pedro Mexia, Ary dos Santos,
de entre outros.
Os alunos e as alunas
foram partilhando as suas leituras e todos eles foram apresentando as suas
justificações para a escolha de este ou de aquele poema “– Faz-me lembrar a
minha infância em Angola.”; “-Fez-me pensar naqueles momentos em que, também
eu, finjo que está tudo bem.”; “- Este poema tocou-me particularmente porque
perdi um ente querido recentemente.”
Estas foram apenas
algumas das justificações dadas pelos alunos.
Mas as docentes foram
surpreendidas quando algumas alunas do 11.º LH1 pediram para partilhar poemas
da sua autoria. Foi com muito agrado que ouvimos esses textos, e é com muita
satisfação que divulgamos três desses poemas, depois de as respetivas autoras
terem autorizado esta partilha.
E viva a Poesia!!!
Neste adulto que habita em mim
Neste sonho habito no corpo
De criança como vim
Ser criança é ter humildade
É viver da verdade
Poder correr, poder dançar
Poder bailar, poder amar
As crianças são amáveis
Sinceras e corajosas
Simples e vaidosas
Como eu queria voltar
Aos meus tempos de criança.
Sonho que sou criança...
Se
te perdesse morreria,
morreria
por não ter mais o dom de falar de amor.
Causar-me-ia
uma ferida,
a
do eterno pecador.
Sozinha
no meio dos meus pensamentos
anseio
ainda a tua chegada,
resguardada
no silêncio
desta
fria madrugada.
Verónica Lourenço, 11.º LH1
Expressar-me sempre foi importante
Para mim
Desde que deixei de poder expressar o
que sinto livremente sem julgamento ou
ignorância alheia
tive de arranjar outra forma de ser eu
expressando-me através da dança,
da liberdade que os movimentos me
traziam
ou do alívio que sentia depois de cantar
o meu corpo e alma
como se tudo o que sentia estivesse
embrulhado naquela canção
de como a falta de palavras para
descrever o que eu penso quando escrevo
me levou a aprender novas
línguas
simplesmente para me expressar com
um número infinito de palavras e
emoções
e como para não me sentir presa na
minha própria casa
tive que fazer o meu sonho de casa
Hanifa Quintas, 11.º LH1
Parabéns à Sofia,à Verónica e à Hanifa!
ResponderEliminarOs seus poemas prometem.
Venham mais!
Manuel Sanches