sábado, 4 de abril de 2020

“Em abril, mulheres mil” – D. Maria II



Rio de Janeiro, 4 de abril de 1819 – Lisboa, 15 de novembro de 1853


Era uma vez uma princesa chamada Maria da Glória Joana Carlota Leopoldina da Cruz Francisca Xavier de Paula Isidora Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga. D. Maria da Glória herdou de sua mãe, D. Maria Leopoldina da Áustria, a tez muito branca, o cabelo louro e uns lindos olhos azuis. 

D. Maria II, 1833, Royal Collection







Só que D. Maria da Glória era uma menina diferente da maioria das outras meninas pois era a neta do rei de Portugal. O seu avô era o rei D. João IV que, em 1807, tinha fugido para o Brasil devido às invasões francesas. Daí o facto de D. Maria ter nascido no Rio de Janeiro.
No entanto, quando ela tinha apenas 7 anos, o avô morreu e, portanto, tinha de se escolher um novo rei para Portugal. O natural sucessor seria o filho mais velho do rei, D. Pedro, pai de D. Maria da Glória. Todavia D. Pedro era o Imperador do Brasil pelo que se decidiu que D. Maria sucederia ao avô no reino de Portugal. Como D. Maria era menor, resolveram que ela casaria com o tio, D. Miguel, irmão do pai, que ficaria como regente do reino durante a menoridade da pequena princesa. 



D. Maria teve pois que abandonar o Brasil, com apenas 9 anos de idade, deixando para trás os pais e todos os amigos e partir rumo à Europa, inicialmente com destino à Áustria, onde ficaria durante algum tempo com o avô materno a fim de se preparar para o seu novo estatuto de rainha de Portugal.
Todavia, o seu tio D. Miguel não se contentava com o estatuto de regente do reino e pretendia chegar a rei de Portugal. Tal pretensão, sobretudo porque era claro o seu intuito de reinar sem “ouvir” previamente o Parlamento, levou a uma luta que durou anos entre Absolutistas, que defendiam D. Miguel, e Liberais que estavam a favor de D. Maria. Esta situação de conflito durou até 1834 ano em que, D. Pedro morreu e D. Maria foi, finalmente, aclamada rainha de Portugal. 

D. Maria II, Simpson, 1840
O seu reinado não foi muito longo mas foi cheio de acontecimentos que a preocuparam e a obrigaram a lutar, com unhas e dentes, para unir os portugueses que, aos poucos, se iam dividindo em fações diferentes. Num dos períodos mais conturbados da nossa História, D. Maria testemunhou, durante o seu reinado, as lutas entre liberais e absolutistas, a Guerra Civil, a Revolução de Setembro, a Belenzada, a Revolta dos Marechais, a Maria da Fonte e a Patuleia.

Quando subiu ao trono, foi-lhe imposta a escolha de um marido. Foi escolhido para seu esposo um príncipe alemão chamado Augusto de Leuchetenberg. Infelizmente, D. Augusto morreu apenas dois meses depois do casamento pelo que foi necessário escolher outro marido e urgentemente. Era preciso criar descendência para o trono de Portugal e assim, foi escolhido para seu cônjuge D. Fernando de Saxe-Coburgo, um alemão que diziam ser “lindo, bondoso e inteligente”. Para além de todos esses atributos, D. Fernando amava as artes o que lhe valeu o apelido de “o Rei Artista”.
  
D. Fernando de Saxe Coburgo
 

Deste casamento nasceram 11 filhos, cinco dos quais não chegaram à idade adulta.
D. Maria II ficou conhecida pelo cognome de A Educadora. Tal deve-se não só à esmerada educação que deu aos filhos, mas também ao facto de ter instituído o ensino primário gratuito e acessível a todas as pessoas. Até então, só as pessoas ricas aprendiam a ler e a escrever, mas D. Maria tentou alterar esse facto ao rodear-se de ministros que muito contribuíram para o avanço do sistema educativo e cultural do país.


Na foto estão alguns filhos da rainha D.Maria II. Da esquerda para a direita:. Fernando, Antónia, Luís (futuro rei D.Luís I), Maria Ana, Augusto e João.


A rainha tinha, também, uma grande paixão pelo teatro, gosto esse que lhe ficara dos tempos vividos na Corte de França. Empenhou-se, pois, apoiada por Garrett, para que se construísse um Teatro que foi edificado no Rossio sobre as ruínas do palácio da Inquisição - O teatro D. Maria II.

Teatro D. Maria II, Rossio


Em 1838, D. Fernando comprou na Serra de Sintra um convento arruinado onde começou a construir um verdadeiro Palácio de Fadas – O Palácio da Pena. É aí que passarão as férias, no mês de setembro, por estar muito mais fresco do que em Lisboa. Alguns Natais serão, também, passados no Palácio da Pena. Aliás, a primeira árvore de Natal portuguesa foi, precisamente, feita por D. Fernando neste Palácio. Uma gravura, desenhada por ele, representa-o, vestido de S. Nicolau,  a distribuir os presentes aos filhos.



Palácio da Pena- gravura
D. Fernando II vestido de S. Nicolau distribui presentes aos filhos


Em novembro de 1853 a rainha morreu ao dar à luz o seu 11.º filho. Nesse Natal não se montou a árvore, nem se deram presentes.
O seu corpo está no Mosteiro de S. Vicente de Fora, em Lisboa.

Chegada do cortejo fúnebre de D. Maria II ao Mosteiro de S. Vicente de Fora

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