Branca
Edmée Marques
(Lisboa,
14 de abril de 1899 – Lisboa, 19 de junho de 1986)
“Branca viveu numa
época em que a ciência era uma área dominada pelos homens e praticamente vedada
às mulheres. Quando terminou a licenciatura em Ciências Físico-Químicas, na
Universidade de Lisboa- um feito já de si raro para uma mulher na primeira
metade do século XX -, foi, a medo, convidada pelo professor de Química para
trabalhar como segundo assistente:
- Não sei se os alunos levarão
a sério e se conseguirá manter a sua compostura, já que será a única mulher,
entre professores e funcionários, a trabalhar no departamento de Química. Só
espero que os restantes consigam aceitar esta modernice de haver mulheres mais
inteligentes do que eles.
Deve ter sido bem sucedida,
uma vez que, pouco tempo depois, conseguiu a sua primeira bolsa de investigação
para estudos no estrangeiro atribuída pela Junta de Educação Nacional.”
“Na altura, as mulheres
não podiam sair do país sem a autorização dos maridos, e Branca não só teve de
pedir licença ao marido (…) como teve de levar a mãe com ela – apesar de ser
uma mulher adulta, inteligente e com formação superior!
Em Paris, Branca
estudou Física Nuclear e desenvolveu a sua investigação no Laboratório Curie do
Instituto de Rádio de Paris Madame Curie, sob a orientação de Madame Curie e André
Debierne.
Em 1953, um ano após a
morte de Curie, Branca defendeu a sua dissertação de Doutoramento, na Sorbonne.
Depois disso, foi convidada a permanecer em Paris e continuar a sua pesquisa ao
lado de André Debierne, mas preferiu regressar a Portugal, onde abriu e dirigiu
o Laboratório de radioquímica na Faculdade de Ciências de Lisboa.
Branca dedicou-se ao
ensino, à investigação e à escrita de artigos científicos. Estudou o Polónio e
interessou-se particularmente pelas aplicações terapêuticas dos radioisótopos,
em especial o uso do iodo-131 em diagnóstico e terapia.
As coisas não eram
fáceis, nesse tempo, para uma mulher cientista, mas inspirada no exemplo de
Marie Curie, Branca nunca deixou que ninguém lhe dissesse aquilo de que não era
capaz. Assumiu vários lugares de liderança, pertenceu a várias sociedades
científicas – portuguesas e francesas – e o seu pioneirismo e o reconhecimento
por parte dos seus pares granjearam-lhe um lugar de destaque na comunidade
científica portuguesa.
Aos 65 anos, tornou-se
a primeira mulher professora catedrática de química em Portugal, 12 anos depois
de se ter habilitado a essa posição.
Branca Edmée Marques
foi uma cientista destemida, cuja confiança e garra a tornaram um exemplo de
superação de desigualdade na progressão na carreira, inspirando as cientistas
portuguesa que lhe seguiram as pisadas."
Fontes:
Vicente, L.
(2018). Portuguesas Com M Grande.
Lisboa: Nuvem de Tinta.
Ignotofsky, A.
(2016). As Cientistas – 52 mulheres
intrépidas que mudaram o mundo. Lisboa: Bertrand Editora, Lda.
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