segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

Mundo de Anne Frank (re)visitado na Biblioteca Escolar

 

Maqueta do edifício onde funcionava a empresa de Otto Frank na Prinsengracht. Em primeiro plano, as traseiras do edifício onde se situava o Anexo Secreto.


À semelhança de anos letivos anteriores, o mês de janeiro é, também, o “mês de Anne Frank” na Biblioteca Escolar da EBS Gama Barros.

É habitual a professora bibliotecária dinamizar, em parceria com os docentes de Português do 8.º ano de escolaridade, uma sessão de enquadramento ao “Mundo de Anne Frank” que permite conhecer um pouco o contexto histórico em que viveu esta jovem adolescente e perceber as razões que levaram esta família e as restantes quatro pessoas a refugiarem-se, durante dois anos, num anexo, sem nunca de lá poderem sair.

A sessão passa pelo conhecimento do espaço do anexo, quer através da maqueta existente na biblioteca, quer através da visita virtual possível através do site oficial do Museu Anne Frank em Amesterdão. A professora bibliotecária não deixa, também, de explorar com @s alun@s as capas de diferentes edições do Diário e de partilhar fotografias da família Frank e outros documentos que permitem conhecer todo o background histórico-cultural que conduziu à eclosão da 2.ª Guerra Mundial, com particular destaque para a política anti-semita de Hitler, que se foi consubstanciando numa perseguição cada vez mais feroz aos judeus.

Pormenor da maqueta onde se pode ver a estante falsa que ocultava a passagem para o Anexo Secreto

Pormenor do quarto de Anne Frank no Anexo Secreto. Atualmente, apenas se pode ver tudo o que Anne deixou nas paredes do quarto. 

Corte transversal do edifício que permite ver as divisões que faziam parte do Anexo Secreto


Livros e filmes em destaque na Biblioteca Escolar 


A sessão é complementada com a leitura de alguns excertos do Diário, da versão em Banda Desenhada, que suscita muito interesse por parte dos alunos mais novos. No final da aula, partilha-se um excerto do livro “Sobrevivi ao Holocausto” de Nanette Blitz Konig, amiga de Anne Frank, nomeadamente o excerto em que ela relata o seu encontro com Anne no campo de concentração de Bergen Belsen, pouco tempo antes da sua morte.



Desta vez, partilhamos contigo as páginas do Diário escritas precisamente a 30 de janeiro de 1943, já alguns meses depois da entrada no anexo secreto:

“Sábado, 30 de janeiro de 1943

Querida Kitty,

Estou a ferver de raiva, no entanto não posso mostrá-lo. Apetecia-me gritar, bater o pé, dar um bom abanão à Mamã, chorar e nem sei que mais, por causa das palavras desagradáveis, olhares trocistas e acusações que ela me lança dia após dia, que me perfuram como setas lançadas por um arco, quase impossíveis de arrancar do corpo. Gostava de gritar à Mamã, a Margot, aos van Daans, a Dussel e também ao Papá:

- Deixem-me em paz, deixem-me ter pelo menos uma noite em que não chore até adormecer, com os olhos a arder e a cabeça a latejar. Deixem-me fugir, fugir de tudo, fugir deste mundo!

Mas não posso fazer isso. Não posso permitir que eles vejam as minhas dúvidas, ou as feridas que me infligiram. Não suportaria a sua simpatia ou o seu escárnio bem-humorado. Isso só me faria querer gritar ainda mais.

Todos pensam que me estou a exibir quando falo, que sou ridícula quando me calo, insolente quando respondo, matreira quando tenho uma boa ideia, preguiçosa quando estou cansada, egoísta quando como mais uma dentada do que devia, estúpida, cobarde, calculista, etc., etc. Todo o dia não ouço outra coisa a não ser que sou uma criança exasperante e, embora eu me ria e finja não me importar, importo-me. Gostava de poder pedir a Deus que me desse outra personalidade, uma personalidade que não antagonizasse toda a gente.

Mas é impossível. Estou limitada ao carácter com que nasci, e contudo tenho a certeza de que não sou uma pessoa má. Faço o meu melhor para agradar a toda a gente, mais do que lhes passaria pela cabeça num milhão de anos. Quando estou lá em cima, tento rir, porque não quero que vejam os meus problemas.

Mais do que uma vez, depois de uma série de censuras absurdas, retorqui à Mamã:

- Não me importa o que dizes. Porque é que não desistes de mim? Sou um caso perdido.

Claro, ela diz-me que não lhe responda torto e ignora-me praticamente durante dois dias. Depois, de repente, é tudo esquecido e volta a tratar-me como aos outros.

Para mim, é impossível ser toda sorrisos num dia e veneno no outro. Prefiro pensar que no meio é que está a virtude, embora não seja assim tão virtuosa, e guardar os meus pensamentos para mim própria. Talvez um destes dias trate os outros com o mesmo desdém com que me tratam a mim. Oh, quem me dera poder fazê-lo!

Tua, Anne”

In  Frank, A. (2019). O Diário de Anne Frank. Livros do Brasil.

 

Capa da edição comemorativa dos 75 anos da publicação de "O Diário de Anne Frank"


"Rosa Branca" de Roberto Innocenti no "Jardim das Leituras"

 

Na passada sexta-feira, dia 27 de janeiro, assinalou-se o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto. Foi neste dia que, em 1945, as tropas soviéticas chegaram ao Campo de Concentração de Auschwitz, na Polónia. O cenário com que se depararam era terrível. Apesar de milhares de prisioneiros terem sido “arrastados” pelas tropas Nazis na “Marcha da Morte” numa tentativa de “apagar” crimes hediondos, muitos tinham sido aqueles que tinham ficado para trás, sobretudo porque a linha que já os separava da morte era muito ténue. Milhares de cadáveres estavam espalhados pelo campo, outros tantos, embora ainda vivos, já pareciam estar na antecâmara da morte tal era a sua debilidade. Dos milhares de crianças que tinham morrido neste campo, nas câmaras de gás, vítimas de experiências médicas, de doenças, de fome… apenas cerca de 500 sobreviveram.

Os repórteres de guerra fizeram questão de captar esta realidade para que não se pudesse dizer que não. Para que não se pudesse dizer que ali, e em centenas de outros campos de concentração, o ser humano tinha perdido a sua dignidade e tinha sido tratado pelos seus semelhantes como não se trata nada, nem ninguém. As imagens captadas nesse dia, e nos dias subsequentes, e os testemunhos dos sobreviventes levam-nos a pensar que o horror do Holocausto nunca poderá ser esquecido e não poderá ser repetido.

Essa é uma das mensagens que a professora bibliotecária da EBS Gama Barros tenta, todos os anos, ano após ano, passar aos alunos de diferentes anos e ciclos de ensino.

E porque é imperioso sensibilizar mesmo os mais pequenos, durante o mês de janeiro, os alunos do 5.º ano foram recebidos no Jardim das Leituras pela professora Filomena Lima que partilhou com eles o livro "Rosa Branca”.

Trata-se de um livro da autoria do conceituado Roberto Innocenti, autor multipremiado, e que nos transporta para uma pequena localidade na Alemanha, durante a 2.ª Guerra Mundial. Rosa é uma menina inocente que não compreende por que razão centenas de soldados começam a chegar à sua terra, nem por que razão, um dia, ao sair da escola, testemunha a tentativa de fuga de um menino de um camião militar. Ao ver que não se trata apenas de uma criança, mas de várias que estão presas no camião, Rosa decide seguir o veículo para tentar perceber para onde estão a ser levadas aquelas crianças. Depois de muito correr em perseguição dos veículos conduzidos por soldados nazis, Rosa chega a um local desconhecido, fora da localidade, onde se depara com várias outras crianças presas, numa zona delimitada por arame farpado eletrificado. Rosa Branca, como qualquer pessoa de bom coração, não vai ficar indiferente perante o que vê e quando se apercebe que aquelas crianças, e muitos adultos, estão cheios de fome passa a privar-se de comida para a partilhar com quem mais dela precisa.

“Rosa Branca” é uma história que não deixa ninguém indiferente e que suscita o debate sobre a essência da humanidade e sobre a Guerra e a Paz. Um livro a não perder…