Escrito
durante a Segunda Guerra Mundial, entre 12 de junho de 1942 e 1 de agosto de
1944, “O Diário de Anne Frank” dá-nos uma grande lição de vida agora que nos
vemos quase confinados ao espaço das nossas casas durante esta quarentena
devido à pandemia provocada pelo vírus Covid-19. Afinal, não podemos/ não
devemos sair de casa mas temos televisão, computadores, Internet, Redes Sociais
para falarmos com familiares e amigos, e supermercados ainda bem abastecidos,
apesar das filas de espera para entrar e dos constrangimentos sociais que são “dolorosos”.
Anne
Frank e a sua família mais chegada (pai, mãe e irmã), a família Van Pels (pai,
mãe e filho) e, ainda, um amigo da família (Fritz Pfeffer) tentaram escapar aos
Campos de Concentração e à perseguição Nazi contra os Judeus, escondendo-se no
Anexo que existia nas traseiras do edifício onde funcionava a empresa do pai de
Anne Frank, Otto Frank.
Durante
cerca de dois anos, essas oito pessoas estiveram fechadas neste pequeno anexo,
sem nunca saírem à rua, vivendo sempre em ambiente de contenção no que ao ruído
diz respeito, sobretudo durante o dia, para que os empregados da empresa não
desconfiassem da existência daquele esconderijo. Apesar da ajuda de alguns
amigos e empregados de Otto Frank, que lhes levavam comida e bens de primeira
necessidade, viram-se muitas vezes privados do mínimo de condições necessárias
a uma vida vivida com dignidade para não falarmos da imensa pressão psicológica
a que estavam sujeitos por causa do medo permanente de serem descobertos.
Aqui
deixo um excerto do diário em que Anne Frank descreve algumas das condições em
que viveram aquelas oito pessoas, que eram seres humanos como nós, e que,
apenas porque tinham uma religião diferente, se viram privados da sua liberdade
e da vida “normal” do quotidiano.
“Domingo,
2 de maio de 1943
Querida
Kitty,
Quando penso nas nossas vidas aqui,
chego geralmente à conclusão de que vivemos num paraíso, em comparação com os
judeus que não estão escondidos. Mesmo assim, mais tarde, quando tudo tiver
regressado ao normal, provavelmente interrogar-me-ei como é que nós, que sempre
vivemos em circunstâncias tão normais, podemos ter «descido» tão baixo. No que
diz respeito aos nossos hábitos, quero eu dizer. Por exemplo, a mesa das
refeições está coberta com a mesma toalha de oleado desde que aqui chegámos.
Depois de tanto uso, dificilmente se pode dizer que esteja imaculada. Eu faço o
meu melhor para a limpar, mas, uma vez que o pano da loiça também foi comprado
antes de virmos para o esconderijo, e tem mais buracos que tecido, é uma tarefa
ingrata. Os Van Daans dormiram todo o inverno no mesmo lençol de flanela, que
não pode ser lavado porque o detergente é racionado e há pouco. Além do mais, é
de tão má qualidade que é praticamente inútil. O Papá anda com as calças
coçadas e a gravata também mostra sinais de desgaste. O espartilho da Mamã rebentou
hoje e já não tem conserto, enquanto Margot usa um soutien dois tamanhos abaixo do seu. A Mamã e a Margot têm
partilhado as mesmas três camisolas interiores durante todo o inverno, e as
minhas estão tão pequenas que nem sequer me tapam a barriga. Tudo isto são
coisas que podem ser ultrapassadas, mas às vezes penso: como é que nós, quando
todos os nossos bens, desde as minhas cuecas ao pincel da barba do Papá, estão
tão velhos e gastos, podemos alguma vez recuperar a posição que tínhamos antes
da guerra?
Tua,
Anne”
Vamos aprender a
valorizar tudo aquilo que temos e, quando isto passar, não podemos esquecer-nos
de agradecer, todos os dias, o facto de podermos abraçar os nossos entes
queridos, de podermos estar com os nossos colegas de trabalho, de podermos sair
quando queremos e, sobretudo, não podemos deixar de valorizar o nosso bem mais
valioso que é a SAÚDE.
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Anne Frank escrevendo no seu Diário | | | |
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Os habitantes do anexo - Edith Frank, Anne Frank, Otto Frank, Margot Frank, Fritz Pfeffer, Herman Van Pels, Auguste Van Pels e Peter Van Pels |
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