A 16 de novembro de
1922 nascia na Azinhaga, no Ribatejo, aquele que viria a ser, até ao momento
presente, o único escritor português galardoado com o Prémio Nobel da
Literatura.
99 anos depois, a
Fundação José Saramago assinala a data com um conjunto de iniciativas que se
vão desenrolar até 16 de novembro de 2022 altura em que, efetivamente, se
completam os 100 anos do nascimento deste escritor.
O pontapé de saída para
uma vasta programação cultural que vai acontecer durante um ano, aconteceu no
dia 16 do passado mês de novembro e realizou-se no âmbito de uma parceria com a
Rede de Bibliotecas Escolares e o Plano Nacional de Leitura. O desafio lançado
às escolas previa a leitura de textos de Saramago na comunidade escolar, em
particular do conto “A Maior Flor do Mundo”. Entendemos associar-nos a esse
acontecimento mas partindo da leitura de excertos de “As Pequenas Memórias”,
obra que está, aliás, a ser lida por um dos Clubes de Leitura da escola – o 12.º
LH1.
Assim, Biblioteca Escolar
e Professores de Português associaram-se e planearam um grande evento em que se
parou para ler na escola. Muitos foram os professores que abriram generosamente
as portas das suas aulas para receberem dezenas de alunos do 12.º ano que, nos
dias 15 e 16 de novembro, leram em voz alta pequenos textos para os seus colegas
de 9.º, 10.º e 11.º anos. Houve, também, alunos do 12.º ano a lerem poemas da
autoria de José Saramago para os mais jovens, nomeadamente para algumas turmas
do 5.º ano.
Não faltou um apontamento
na sala de professores. Três alunas do 12.º LH1 leram o texto de “As Pequenas
Memórias” onde Saramago recorda o seu namoro passageiro com uma rapariga de
nome Deolinda.
Para assinalar este
dia, a Biblioteca Escolar dinamizou, ainda, um “Leituras de Porta em Porta”
que, mais uma vez, contou com a colaboração de alguns alunos monitores.
Aqui ficam algumas fotografias que registaram esses momentos de partilha de leituras em homenagem a José Saramago e o excerto do texto de "As Pequenas Memórias" lido na sala de professores.
“Daquela
mesma varanda, tempos mais tarde, namorei uma rapariga de nome Deolinda, mais
velha do que eu três ou quatro anos, que morava num prédio de uma rua paralela,
a Travessa do Calado, cujas traseiras davam para as da minha casa. Há que
esclarecer que namoro, o que então se chamava namoro, dos de requerimento
formal e promessas mais ou menos para durar (“A menina quer namorar
comigo?”,”Pois sim, se são boas as suas intenções”), nunca o chegou a ser.
Olhávamo-nos muito, fazíamos sinais, conversávamos de varanda para varanda por
cima dos pátios intermédios e das cordas da roupa, mas nada de mais avançado em
matéria de compromissos. Tímido, acanhado, como me estava no carácter, fui
algumas vezes a casa dela (vivia, creio recordar, com uns avós), mas ao mesmo
tempo, decidido a tudo ou ao que calhasse. Um tudo que daria em nada. Ela era
muito bonita, de rostinho redondo, mas, para meu desprazer, tinha os dentes
estragados, e, além do mais, deveria pensar que eu era demasiado jovem para
empenhar comigo os seus sentimentos. Divertia-se um pouco à falta de pretendente
idóneo, mas, ou muito enganado ando desde então, tinha pena de que a diferença
de idades se notasse tanto. Em certa altura desisti da empresa. Ela tinha o
apelido de Bacalhau, e eu, pelos vistos já sensível aos sons e aos sentidos das
palavras, não queria que mulher minha fosse pela vida carregando com o nome de
Deolinda Bacalhau Saramago.”
Saramago, J. (2006). As Pequenas Memórias. Lisboa: Editorial Caminho.
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